Por Caio Gottlieb*
À medida que avançam as apurações da CPMI e as investigações da Polícia Federal sobre o escândalo dos descontos indevidos nas aposentadorias do INSS, vai se desmanchando, como um castelo de areia sob o peso da maré, a narrativa ensaiada pelo Palácio do Planalto de que os desvios seriam herança de governos passados.
O tempo — e os documentos — tratam de mostrar o contrário: o esquema deslanchou, foi turbinado e alcançou proporções astronômicas, estimadas em mais de 6,5 bilhões de reais, justamente neste terceiro mandato de Lula. E o detalhe que mais incomoda a turma que está no poder é que a lama respinga em entidades historicamente ligadas ao PT.
O relatório mais recente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão encarregado de analisar transações monetárias suspeitas para combater a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo, encaminhado à comissão parlamentar mista, revelou que a Contag, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares — velha conhecida dos corredores petistas — movimentou R$ 2 bilhões em apenas um ano.
Dinheiro que entrou e saiu num vaivém frenético, com depósitos suspeitos, cheques-viagem em regiões de fronteira, aplicações incompatíveis com a renda declarada e operações para “terceiros não identificados”.
No total, entre 2016 e janeiro de 2025, as operações somam R$ 3,4 bilhões, segundo a Controladoria-Geral da União. Uma fortuna que, ao que tudo indica, não brotou do chão nem veio das enxadas do campo.

“Frei” Chico, nada franciscano (Divulgação)
Enquanto isso, o Sindnapi — Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas do Brasil —, que tem como vice-presidente ninguém menos que Frei Chico, irmão de Lula, também entrou no radar das investigações.
O Coaf detectou R$ 1,2 bilhão em movimentações entre 2019 e 2025, incluindo repasses de milhões a empresas de familiares de seus dirigentes.
Uma confraria de falsos protetores dos aposentados, que em vez de defender, tungaram sem autorização valores dos contracheques dos mais vulneráveis, sob o disfarce da representatividade sindical.
A desculpa é sempre a mesma: “transferências rotineiras”, “atividades legítimas”, “tudo dentro da lei”. Mas o cheiro de maracutaia é mais forte que qualquer perfume institucional.
No fundo, o que se vê é o velho projeto de poder travestido de causa social, alimentando uma rede de entidades (ou organizações criminosas?) que se dizem defensoras dos pobres, mas vivem de explorar a pobreza alheia. E, ironia das ironias, foi justamente no governo que se autoproclama o “pai dos pobres” que a roubalheira atingiu seu auge.
A máscara da solidariedade vai caindo — e por trás dela, aparece o rosto conhecido do oportunismo e da ladroagem.

*Jornalista, publicitário, fundador e sócio-proprietário da Caio Publicidade, atua na TV Tarobá desde a sua fundação em 1979, conduzindo o programa de entrevistas Jogo Aberto.
Fonte Extra






