Por Caio Gottlieb*
É quase um paradoxo tropical: o setor que mais carrega o Brasil nas costas é também o mais prejudicado pelo governo. O novo Plano Safra, anunciado com fanfarra pela administração petista, confirma mais uma vez que a retórica oficial não apenas desinforma — ela sabota.
Sabota o crédito, sabota o investimento, sabota quem produz. O agricultor brasileiro não recebe apoio — recebe a conta.
O deputado federal Pedro Lupion, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, desmonta com precisão a peça de ficção que o governo apresentou como “o maior Plano Safra da história”.
Anunciaram R$ 516 bilhões em crédito para a agricultura empresarial, mas omitiram que apenas 22% desse valor será operado com juros controlados. O restante — quase 80% — é capital bancário, a juros de mercado, com taxas que passam dos 2% ao mês.
Ou seja, o produtor é o financiador de si mesmo — com um governo fazendo pose com o dinheiro dos outros.
No ano passado, prometeram R$ 138 bilhões com juros equalizados. Executaram R$ 92,8 bilhões. O resto foi engolido pelos contingenciamentos — um truque velho do PT para inflar anúncio e esvaziar a entrega.
Este ano, a história se repete. Dos R$ 113,8 bilhões prometidos com juros favorecidos, a chance de execução plena é quase nula. O que há de concreto — e pesado — é a conta dos juros: R$ 58 bilhões que saem direto do bolso do produtor. Um recorde, de fato. Mas desses que só são comemorados no Ministério da Fazenda, nunca no campo.
E como se não bastasse o custo proibitivo, o governo ainda prepara um novo ataque: a MP 1.303/2025, que prevê a taxação das LCAs, instrumentos que financiaram 43% da última safra. É um tiro no motor do crédito rural.
Menos liquidez, menos previsibilidade, juros ainda maiores. O dinheiro ficará mais caro, e quem pagará, como sempre, é o produtor — enquanto o Tesouro lucra e o governo distribui manchetes como quem colhe trigo.
No item seguro rural, o descaso foi absoluto. Nem sequer foi mencionado no anúncio do Plano Safra 2025 — um silêncio gritante diante da realidade vivida no campo.
No ano passado, o governo havia reservado R$ 1 bilhão para essa política essencial, mas executou apenas R$ 67 milhões. E isso em um cenário de perdas climáticas severas, com produtores enfrentando crises no Rio Grande do Sul, no Paraná e em diversos outros estados.
O seguro, que deveria ser o colchão de segurança do agro, foi simplesmente ignorado. Como se estiagens, enchentes e geadas fossem problemas menores diante das urgências da propaganda oficial.
Apesar de tudo isso, o Brasil colhe agora uma safra recorde. Não por mérito do governo — que só atrapalha — mas por pura vocação nacional.
O agro brasileiro é resiliente por necessidade e obstinado por natureza. Planta porque não pode parar. Produz porque não sabe viver de desculpas. Financia a própria produção, enfrenta juros extorsivos, contorna a burocracia e segue em frente. E o faz com bravura.
Graças ao agro, o Brasil mantém superávit na balança comercial, evita o colapso cambial e segura uma inflação que já seria explosiva se o setor produtivo também parasse.
Sem o campo, o país seria um buraco fiscal sem fundo — deficitário, dolarizado e sem capacidade de reação. O Brasil só não quebrou de vez por causa do campo.
E é justamente para evitar esse colapso — e devolver alguma racionalidade econômica ao país — que Lupion e a Frente Parlamentar da Agropecuária propõem um pacote de medidas concretas.
Propostas voltadas à redução dos gastos públicos, ao resgate da credibilidade fiscal, ao fortalecimento do setor produtivo e ao aumento das oportunidades para os brasileiros.
Entre elas:
• Transferência do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para o Ministério da Agricultura
• Redução do número de ministérios (de 31 para 19)
• Fim dos supersalários e controle das verbas indenizatórias
• Reestruturação de imóveis públicos para reduzir aluguéis e gerar receita
Na agenda econômica, a FPA defende ainda:
• Prorrogação da alíquota zero do IOF-Câmbio até 2030
• Segurança jurídica para operações de crédito rural com risco sacado
• Manutenção da isenção da cesta básica como mecanismo anti-inflacionário
Enquanto isso, o governo segue operando no “modo eleição”, vendendo manchetes e colecionando omissões.
O Plano Safra 2025 não é um plano para o campo — é um panfleto político, concebido com má vontade, por um governo que rejeita ideologicamente o setor que ainda sustenta o Brasil.
E faz isso penalizando justamente a única área onde o país é, de fato, uma potência mundial: a produção de alimentos.

*Jornalista, publicitário, fundador e sócio-proprietário da Caio Publicidade, agência de propaganda com mais de três décadas de atuação em Cascavel e no oeste do Paraná. Paranaense de Pato Branco, Caio Gottlieb é um dos pioneiros do telejornalismo no interior do Estado. Atuando na TV Tarobá desde os primórdios da emissora, ele produz e apresenta o tradicional programa de entrevistas Jogo Aberto, um dos mais tradicionais programas de entrevistas da TV brasileira, que está na grade da emissora desde a sua fundação em 1979.
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